sexta-feira, 24 de julho de 2015

LÉO BRIGLIA: UMA LENDA DO FUTEBOL NO FISCO

LÉO BRIGLIA: UMA LENDA DO FUTEBOL NO FISCO BAIANO


BLOG DO GUSMÃO


Por José Henrique Abobreira/Coluna “Estórias do Fisco”



Há alguns meses me permiti escrever sobre folclore político para a meia dúzia de leitores cativos que tenho. Na coluna, narro passagens engraçadas que vivenciei como vereador, vice-prefeito e militante. Como abordava os “causos” de maneira ampla, decidi especificá-los falando sobre a seara do fisco baiano ao qual sirvo há quase quarenta anos.


Nas minhas atividades laborais percorrendo todo o território do estado e no convívio com diversas pessoas, colegas fazendários, policiais a serviço da Fazenda, contribuintes, assisti a episódios hilários e dignos de uma coletânea de “causos” que passarei a contar para a diversão (espero) de quem nos lê.


A decisão foi reforçada num encontro recente, no cafezinho da Conceição na praça do Theatro, com o amigo e colega Marco Antonio Porto Carmo (ex-secretário da fazenda municipal). Relembramos esses momentos que serviram para amenizar a atividade não tão tranquila de um cobrador de impostos. As lembranças me incentivaram a colocar essas estórias no papel.


Começarei essas mal traçadas linhas (era assim que os antigos começavam qualquer texto) falando de Léo Briglia, auditor fiscal com quem trabalhei no início da minha vida funcional como  agente arrecadador. Léo é um cara bonachão, de estilo gozador, bon vivant, de boa conversa  (às vezes exagerada – risos) e  muito vívido. Foi craque na seleção de Itabuna e no Bahia. Com o time da capital, conquistou o primeiro título do campeonato brasileiro: a Copa Brasil de 1959. “Destruiu” os adversários e ainda foi o artilheiro da competição. Depois foi jogar pelo Fluminense do Rio de Janeiro, na companhia de Telê Santana e outros craques da época.



Léo também jogou no Fluminense (RJ). Ele é o segundo agachado da esquerda para a direita.


Ele conta que pernoitou no Ilhéus Hotel para embarcar no dia seguinte para o Rio, mas, seu pai, o coronel Chiquinho Briglia, delegado de polícia à época e um dos maiores produtores de cacau do sul da Bahia, lhe deu voz de prisão no saguão do hotel. Queria impedi-lo de ir jogar futebol na cidade maravilhosa. O esporte era considerado coisa de malandro naquele tempo e o coronel desejava manter o filho querido junto de si.


Léo vive hoje na Ponta da Tulha. Quem quiser ouvir essas e outras estórias só precisa procurá-lo. Os comunicólogos Emílio Gusmão (editor deste blog) e Thiago Dias (repórter) se juntarão a este escriba e ao amigo e colega Zé Antonio para visitarmos Leo Briglia. Pretendemos estourar uma gela ouvindo seus relatos para documentá-los.


Uma das estórias impagáveis é a de que o craque Pelé deve a sua carreira a uma contusão que o Léo sofreu. Ele foi convocado para a seleção canarinho, mas, não pôde acompanhar o “escrete” à Suécia. Pelé o substituiu e estourou para o mundo dos craques de futebol, se tornando campeão mundial. Eu falei que o “homi” é dado a uma conversa (risos).



O eterno craque ainda tem muita história para contar.


Deixemos o mundo do futebol e adentremos no universo do fisco baiano. Essa eu vivi pessoalmente: no posto fiscal, no decorrer de um plantão de trabalho, Léo diz que vai para casa tirar um cochilo, pois não se sentia bem. Ele tem problemas  decorrentes da prática do futebol, machucados e contusões que lesionaram as articulações. Determinou que nos esforçássemos na arrecadação, porque precisava alcançar o teto na produtividade da ação fiscal.


Lá para as tantas, apreendemos a carga de um caminhão sem nota fiscal.  O motorista esqueceu o documento no escritório da empresa e quis voltar para pegá-lo. Só que no afã de cumprir a meta, nós desconsideramos o fato e passamos a exigir o imposto devido pela irregularidade. Passamos a madrugada inteira no bate-boca: “paga, não paga”.


Léo voltou de manhã. O caminhoneiro disse a ele: “Seo Leo, eu sou fulano. Lembra de mim”. Depois de toda a noite naquela confusão, Léo mostrou seu lado bom vivant e, com a maior tranquilidade, disse: “Abobreira, esse amigo não perde uma festa na casa de mamãe. Pode liberá-lo mediante a apresentação da nota fiscal que ele esqueceu na firma”. No pensamento, roguei pragas e xingamentos, mas o “homi” era o chefe (risos).


A outra faceta do Léo é a irreverência, até porque diretores e secretários da fazenda o conheciam do tempo de futebol. A sua fama de craque o tornava íntimo dos chefes e os que desconheciam isso aprendiam na pele, pois tinha sempre um superior hierárquico a proteger o ex-craque.


Num plantão no subúrbio ferroviário, Léo abandonou o trailer para tomar um trago num botequim perto. Chega um dirigente novato, fazendo uma visita de surpresa, flagra o trailer vazio. De imediato apanha o carimbo funcional de Léo, coloca-o na pasta e diz para o soldado: “Diga a esse moço para ir pegar esse carimbo amanhã no gabinete do secretário da fazenda!” Lascou. Fu. (risos) . Mas ele não contava com a astúcia de Léo que, ao tomar conhecimento da “punição”, ligou para a sua madrinha, Dona Detinha, esposa de Lomanto, o então governador da Bahia. Contou tudo chorando pitangas. A madrinha, penalizada com a aflição do afilhado, de imediato falou com Lomanto e este acionou o secretário: “Deixe meu afilhado em paz dessa vez. Na próxima você suspende esse malando”.


Outra que ele conta e jura pela alma da mãe, é que foi reconhecido por um admirador mais de 30 anos depois de ter largado o futebol (não falei que o homem alongava a conversa?) Deu-se que saiu da Bahia de férias, com esposa e filhos, e foi rever o Rio de Janeiro, já na década de 1990. Um dia, ao término da refeição no restaurante, pediu a conta e avistou o letreiro bem grande “NÃO ACEITAMOS CHEQUE”.


Verificou alarmado que não sacara dinheiro no banco e só tinha o talão do Baneb, banco pagador dos servidores na Bahia. Preocupado, chamou o gerente da casa para se explicar. O cara, com o sotaque carregado dos cariocas, exclamou: “Porra Léo! Deixe de conversa mole. Sou seu fã. Assistia a todos os jogos do Flu no Maraca.Vou colocar esse cheque num quadro para mostrar aos clientes que o grande craque Léo almoçou aqui”.


José Henrique Abobreira é auditor da receita e articulista do Blog do Gusmão.




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